A História desde o Início
Om Mandli – Neville Hodgkinson (Centro Global de Retiros , Reino Unido)
Um documento escrito durante uma intensa controvérsia que surgiu na época do estabelecimento da Brahma Kumaris há mais de 70 anos foi publicado recentemente, em meio a alegações de que ele provava falta de moralidade por parte de Dada Lekhraj, o fundador da organização.
Denominado "Om Mandli", foi preparado em 1940 por um grupo de homens da comunidade empresarial Bhaibund em Hyderabad, Sind, depois que algumas de suas esposas e filhas foram profundamente atraídas pelas idéias espirituais e estilo de vida que eram ensinados, incluindo o celibato.
No início, os homens, que, muitas vezes, ficavam dois ou três anos ausentes a trabalho, estavam felizes com fato de suas mulheres participarem de “Om Mandli” (círculo sagrado), nome dado à congregação espiritual, naquela época. Entretanto, a visão que o fundador tinha de um movimento por reforma social e espiritual conduzido por mulheres cresceu gradualmente em força e influência.
Em consequência desses ideais, jovens mulheres começaram a se recusar a casar , e esposas recusavam-se a ter relações sexuais com seus esposos, quando eles retornavam de suas longas viagens. Um escola regida sob princípios religiosos era criada , e algumas mulheres e crianças foram viver com Lekhraj e sua família, depois que ele doou sua fortuna a um comitê administrativo formado somente por mulheres, em favor do novo movimento.
Na Índia dos anos 30, onde as estruturas religiosas e sociais mantinham a maioria das mulheres em extrema subserviência, esses acontecimentos comprovaram-se altamente desafiadores. . O Punchayat local, uma assembleia de anciãos, exigiu que Lekhraj mudasse os ensinamentos, especialmente em relação ao celibato.
Ele se recusou, e começou, então, uma campanha para interditar Om Mandli. . Até que a campanha tomou a forma de piquetes violentos, com janelas, cercas e muros quebrados, e, em uma ocasião, uma tentativa de incendiar o prédio central do grupo.
As mulheres pediram proteção ao magistrado do distrito de Hyderabad. Em vez disso, o magistrado, um parente do líder do comitê Bhaibund, emitiu uma ordem que impunha uma proibição, argumentando que Om Mandli, através dos seus ensinamentos subversivos, era responsável pelas cenas de desordem.
Dois juízes britânicos anularam aquela ordem. Após uma audiência do Supremo Tribunal em Karachi, em novembro de 1938, eles disseram: “Se tivéssemos que aceitar a posição do magistrado do distrito, algumas pessoas conservadoras favoráveis à violência poderiam impedir, com êxito, qualquer movimento social de reformas ao impedir e, injustamente, coibir aqueles que realizam reformas sociais."
Os juízes acrescentaram que a lei penal sob a qual a ordem havia sido feita estava “sendo dirigida a uma finalidade a que não pretendia, que era, evitar, não atos ilegais aos olhos da lei, mas atos ilegais aos olhos do magistrado do distrito... Estamos lidando aqui com reuniões religiosas em duas residências.”
Após essa derrota, o “Comitê Anti Om Mandli” intensificou suas acusações e atividades. Garotas que se recusaram a se afastar da congregação foram trancadas, espancadas, expostas nas ruas, e forçadas a comer carne de porco, em tentativas de quebrar a influência que Lekhraj havia exercido sobre elas.
O comitê começou a alegar que Lekhraj, anteriormente muito respeitado, era um líder de seita que havia hipnotizado suas mulheres , e estava se comportando com elas de forma imoral. As declarações de quatro garotas “instruídas” para esse efeito foram divulgadas nos jornais.
Outros grupos envolveram-se e a discussão se espalhou pela região, chegando, por fim, ao Parlamento de Sind, onde uma ordem que impunha uma proibição foi decretada depois que membros hindus ameaçaram derrubar o governo caso suas exigências não fossem atendidas.
Uma ideia do que aconteceu está apresentada neste trecho de um discurso feito na Assembleia Legislativa de Sind em 24 em março de 1939 pelo Ministro da Lei e da Ordem, Sir Ghulam Hussain Hidayatullah, da Liga Muçulmana (após a divisão da Índia em 1947 Sir Ghulam tornou-se o primeiro Governador de Sind). Ele disse:
Eu ouvi o último orador, e devo dizer que ele e alguns de seus amigos querem que o Governo seja manipulado, obedeça aos seus ditames e não faça justiça a ninguém. Alguns dos oradores propuseram uma teoria de que não devemos impedir a liberdade civil do povo e de que devemos seguir a opinião da maioria. Bem, Sir, eu pergunto a esses senhores que fizeram essa proposta, “Por serem essas pobres mulheres em um número pequeno, devemos fazer justiça com nossas próprias mãos e impedir sua liberdade?Veja a iniquidade, Sir ...
Posso dar exemplo de alguns dos Profetas para mostrar como eram poucos quando iniciaram qualquer religião. Tomem o caso do nosso Sagrado Profeta Maomé. Quantas pessoas ele tinha consigo? ? Cinco ou dez, quando muito. Se aceitarmos e seguirmos a definição de liberdades civis do Exmo.. Membro [—–], ele deveria ter sido impedido de propagar o Islã.
Sir, devemos dar liberdade a todas as castas e comunidades, independente da opinião da maioria. Não podemos ser conduzidos com arma na mão por alguns dos nossos ilustres membros e ser solicitados a fazer justiça com os outros.
Apesar de um recurso semelhante feito por K.B. . Allah Baksh, Ministro-chefe, o Governo cedeu à pressão e uma diretiva foi emitida declarando Om Mandli uma associação ilícita.
Alguns jornais, que haviam se ocupado do grande papel de estimular o rancor contra Mandli, receberam bem a interdição. Outros ficaram chocados com a injustiça. Editoriais do The Daily Gazette declararam que o Governo de Sind estava atropelando as liberdades civis às quais o povo indiano tinha direito, sob o domínio britânico. O sistema britânico de justiça foi comparado com o de épocas anteriores, quando “o poder de decidir o que é um ato doloso e o que não é era sumariamente atribuído ao Punchayat local , e não havia recurso”.
Após a interdição, um relatório chamado “Isso é Justiça?" foi escrito por Om Radhe, uma jovem solteira, responsável pelo Mandli. Foi publicado em agosto de 1939 de Karachi, para onde havia ido o recém-criado movimento, depois de ter sido forçado a sair de Hyderabad. O relatório continha muitos testemunhos do poder e pureza transformadores dos ensinamentos. O documento do Comitê Bhaibund, que veio recentemente a público, foi uma resposta enraivecida a esse relatório.
Por fim, a justiça prevaleceu. Com apoio nos bastidores de personalidades governamentais seniores, o Mandli sobreviveu em Karachi. Nos 13 anos, várias centenas de mulheres e alguns homens continuaram calmamente seu trabalho de alcançar autorrealização através dos ensinamentos e práticas. Em 1950 , mudaram-se para Monte Abu, no Rajastão, de onde as irmãs fundadoras, que agora usam o nome de Brahma Kumaris (filhas de Brahma, a divindade hindu que representa a criação), levaram a chama da consciência mais elevada por toda a Índia e pelo mundo afora.
Em 1994, o Governo da Índia emitiu um selo de um rupee em homenagem ao fundador do movimento, comemorando 25 anos desde a sua morte, em 1969. Foi lançado pelo presidente da Índia, na Casa Presidencial, em Delhi. O Conselho Consultivo que recomendou a emissão do selo disse que era em reconhecimento ao serviço que a Brahma Kumaris havia feito , e, em particular, à sua forte afiliação e contribuição com as Nações Unidas, onde ocupa status consultivo há muitos anos.
Houve incontáveis outras realizações alcançadas desde então, trazendo benefícios para milhões na Índia e em todo o mundo.